Como a evolução da língua portuguesa ao longo dos séculos afeta sua pesquisa de antepassados

Existe um limite para a pesquisa genealógica? Com certeza não. A busca pelos antepassados cruza fronteiras e oceanos, passa por várias culturas, histórias e idiomas. Até mesmo para os antepassados na árvore que têm seus registros com o idioma nativo do descendente, a língua antiga pode representar um grande desafio. Entender a evolução da língua portuguesa ao longo dos séculos facilita na hora de interpretar um registro e extrair dele os dados importantes, necessários para o avanço da árvore e de outras linhagens correspondentes.

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A história da língua Portuguesa

Originária Latim, conhecida na linguística como língua neolatina ou românica, seu surgimento estimado da época compreendida entre os séculos IX e XII. Mais precisamente no século XIII o rei D. Dinis oficializou a língua portuguesa para o reino de Portugal, passando a ser utilizada em todos os documentos administrativos da corte.

Conhecido como idioma galego-português, perdurou no formato arcaico por dois séculos. O testamento do rei Afonso II é um exemplo de como era a grafia do idioma na época, do qual abaixo está o primeiro parágrafo:

Eu rei donafonso pela gracia de deus rei de portugal. sééndo sano é saluo. tente o dia de mia morte a saude de mia alma e a proe de mia molier reina dona Orraca e de meus filios e de meus uassalos e de todo meu reino fiz mia mãda p q de pois mia morte mia molier e meus filios e meus uassalos e meu rei-no e todas aq las cousas q deus mi deu en poder sten en paz e en folgãcia.

Apesar das diferenças com o atual português, as semelhanças são grandes, precisando apenas de atualizações para o perfeito entendimentos nos dias de hoje. A língua e a grafia foram mudando com o tempo. Por um século e meio, do XV a metade do XVI o português é nominado de arcaico médio. Um exemplo é a Crónica de D. João I, escrito por Fernão Lopes. Abaixo uma parte dos escritos:

A quall delpois per tall grassa aquello que Della he gerado, que lhe fica esta conformidade também acerca da terra.

A evolução para o português moderno

A segunda metade do século XVI até o final do XVII foi marcado pelo português moderno. Com eliminação de algumas letras duplicadas e algumas outras diferenças, sendo considerada a transição do idioma antigo para o atual. Luiz de Camões, escritor e poeta, deixou em suas obras o exemplo abaixo, encontrado em seu livro em Os Lvsiadas – Canto Primeiro:

Daime hũa furia grande & sonorosa,
E não de agreste a vena, ou frauta ruda
Mas de tuba canora & belicosa,
Que o peito acende, & a cor ao gesto muda
Daime igoal canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda
Que se espalhe & se conte no vniuerso,
Se tam sublime preço cabe em verso.

A partir do século XVIII o português se torna contemporâneo. É o que vigora até os dias de hoje, e passou por muitas atualizações e acordos para a unificação da língua em todos os países que a utilizam como oficial.

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Grafias e letras diversas em documentos do português contemporâneo

É possível notar em registros portugueses e brasileiros grafias diferentes das habituais e isso pode atrapalhar ou deixar dúvidas durante a leitura e interpretação do registro analisado para a pesquisa. Muito do que foi encontrado nos diversos registros incluem:

  • A letra d com a haste virada ao contrário como se fosse a letra q. Essa grafia utilizada em manuscritos pode atrapalhar na leitura a quem acaba interpretando as citadas letras de forma trocada
  • A letra S com formato longo, normalmente significando o que hoje temos com o ss, ou o eszett, ainda hoje utilizado em outro idioma, pode confundir o leitor dos dias atuais pelo desconhecimento da letra e por se parecer com a letra f. Para entender melhor as variações e história da grafia da letra recomendamos a leitura desse artigo que tem exemplos desenhados e imagens
  • Grafias antigas não usuais nos dias de hoje também podem confundir como Hontem, inhumado (inumado, desenterrado), parochia (paróquia), nasceo (nasceu), fallecido, districto, Assumpção, Anna, Baptista, contrahentes, acto, anno entre outras
  • As abreviaturas eram muito comuns e utilizadas nos registros tanto na idade média quanto no século passado. As mais comuns são M.el (Manoel), Mª (Maria), An.to (Antonio), fº (filho), P.e (Padre), Frgª (Freguesia), S.ra (Senhora), Rodrigues (Roiz), Fon.ca (Fonseca), 9bro ou Nov.bro (novembro) e muitos outros

Estes tópicos são apenas alguns exemplos do que pode ocorrer durante a pesquisa e tentativa de leitura dos registros dos antepassados, afinal, cada imagem traz uma nova informação e outras situações inusitadas podem acontecer.

A evolução da língua portuguesa ao longo dos séculos e o progresso na pesquisa e leitura

Para os que aceitam o desafio de buscar seus antepassados e documentar a partir dos registros antigos, compreender essas diferenças ajuda na hora do aperto e evita erros de informação na árvore. Outras dicas sobre esse assunto também estão neste artigo em nosso blog.

Leia também: As melhores dicas para ler e entender registros antigos

Uma das melhores maneiras de entender rapidamente é o esforço em desenvolver a aptidão da leitura de registros de cartórios e paróquias. A indexação é uma excelente maneira de treinar o olho e aprender com o tipo de escrita, letra, ainda que em registros mais modernos primeiramente para depois evoluir para os mais antigos e com desafio maior. Todo voluntário que transcreve imagens ganha muito mais do que concede ao dedicar um pouco do seu tempo nesse trabalho.

Consultora de história da família, genealogista, pianista e principal responsável pelo blog do MyPast

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